Friday, February 29, 2008

FOI CARNAVAL... NINGUÉM LEVA A MAL!


O que é o CARNAVAL?

O Entrudo espevitado pela folia ?

O folclore brilhante das plumas coloridas

esvoaçando desejos recalcados?

O estrondoso eco "taco-punta,taco-punta,taco-punta" do calçado saltitante na calçada vazia de conteúdo?

O brilhantismo efervescente da mulata,

dançarina gostosa,

gingando as carnudas colunas de Hércules

em desmesurada competição

ao ritmo desvairado do samba

das favelas dos Brasis?

O muleque carinhoso,

de ventre dilatado,

artista malabarista da redondinha,

sonhando uma vida melhor,

para além da feijoada aguada?


CARNAVAL! CARNAVAL!

_ Oi, galera,´'tá legal?

_ Tudo joia, mê irmão, né?


E a vida? A NOSSA VIDA?

Não é a NOSSA VIDA um verdadeiro CARNAVAL?


Mal caímos neste mundo e

"_ Zás, catrapumba!"

Somos iniciados num aleivado Carnaval...

... sem referência ao acto da concepção...

De imediato,

embrulham-nos no organdi da maledicência:

_ Olha, que lindo! Sai à mãe!

_ Não, ao pai é que é!

_ É feio como todos os bébés!

_ Macaquinhos há muito mais gostosos!

E seguem-se as histórias infantis:

_ Era uma vez, uma princezinha,

tão bela, tão bela, ...

... etc e tal, blá-blá, blá-blá...

idem, ibidem...

... e viveram felizes para sempre!

GRANDE CARNAVAL!


E vida fora,

os encontros emocionais e profissionais,

a vergonha do piropo brejeiro,

a indecisão do primeiro beijo...

... a paixoneta de estio,

desfeita,

o amor traído,

os vícios interrompidos

e corrompidos

e as verdades descoloridas

e a...

_ Os meus pêsames.

Era muito bom rapaz!

E logo para o lado:

_ Grandíssimo cabrão!

enquanto, carpindo inóspitas lágrimas de crocodilho,

aconchega solene a coroa de crisântemos

depositada na campa semi-cerrada

ostentando o cartão pessoal

colado nos dourados da astúcia:

_ Receba os nossos sinceros sentimentos pela perda do seu ente querido!

cochichando:

_ De grande puta se abastece, hoje, o Mafarrico!


CARNAVAL! CARNAVAL! CARNAVAL!

E a mentira política,

económica,

histórica

e sócio-cultural

em ebulição.

E a vida em carnavalesco cortejo,

desfilando presunçosa,

no dançódromo,

virado sambódramo,

de sonhos,

quimeras

e

devaneios...


E... que é então o CARNAVAL?

Se a vida não é um verdadeiro Carnaval,

que ninguém me leve a mal...

...ainda é tempo de Carnaval.

E antes que o Carnaval se despeça,

despeço-me eu com o "capelino rosso"

digno de qualquer ayatola,

de civilização oriental...

... e que mais?

Se acaso não gostaram,

não levem a mal.

VIVA O CARNAVAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


L. Araújo, in Circunstâncias.


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