Thursday, January 27, 2005

O MAR TEM VIDA ...

Em pequenino
uma vez
disseram-me do mar
que não tinha vida
E perdido
em invernosas tempestades
de água e sal
simplesmente
existia

Mas o mar tem vida
e sente
O mar tem coração
e bate
bate suave
e forte acelerado
O mar tem alma
seiva branca
de espuma leitosa
que chora
e chora angústias penosas

O mar tem vida
e vive
abraçado à terra.


L. Araújo, in "Maresias".

Tuesday, January 18, 2005

PARTISTE . . .

Partiste
rompendo a linha do horizonte
e a ilha
quase ligada ao continente
mais perto
o longínquo pensamento
queda-se
preso sufocado
entre o mar e o céu
da poesia.

L. Araújo, in "Maresias".


PERDIDA . . .

Perdida
na vastidão desértica
do horizonte
a criança
pergunta, inocente:

_Que é aquilo, além,
dançando na água?

_É um barco
saindo para
o mar!

... ... ... ... ...

_Eu queria tanto viver no mar ...!

L. Araújo, in "Maresias".


Tuesday, January 11, 2005

EM TI ...

Em ti
meu ser
prendo
na química da maresia
envolto

... Quisera para sempre
enlear-me
nas amarras do teu regaço
porto seguro
para aquém do mítico
cabo das tormentas ...

E eternamente
me quedarei
atado
em sereno abraço
aos férreos grilhões
de Neptuno.

L. Araújo, in "Maresias".



Thursday, January 06, 2005

PARTIR

Partir

e o olhar
moldando a saudade

segue atrelado
o horizonte incógnito
do pensamento
deserto
indizível.

L. Araújo, in "Maresias".


PERANTE OS OLHOS ...

Perante os olhos
a ilha corre vertiginosa
camuflada na fumaça
do combustível queimado
e perde-se marginalizada
no rasto do navio

O mar lavrado
embala nas ondas batidas em espuma
avivando o desejo do regresso
aos térreos braços maternos

Além no horizonte
formoso desponta o astro rei
saciando a vida
na fuga crucial da morte
anunciada

E a praia
emergindo tão perto
à distância de um simple olhar
o canto das sereias perde-se
algures
na brisa de nordeste.

L. Araújo, in "Maresias"




Wednesday, January 05, 2005

SENTEI-ME ALGURES ...

Sentei-me algures
na colina dos meus sonhos
debruçado sobre o horizonte
longínquo e vasto
onde o sol corria célere
a abraçar Morfeu
em casulo de púrpura vestido
e fiquei
distante meu pensamento
rectilíneo
e tua imagem reluzente
envolveu-me
ao luar pontilhado
por castelos de algodão
suspensos no firmamento
e já a lua teus lábios beijava
e em teus seios miríades cintilavam
lavrando teu corpo dourado
mar dos meus sonhos
e paixão.

L. Araújo, in "Maresias".






QUIS UM DIA VER O MAR ...

Quis um dia
ver o mar
distante bem longe
para além do meu lugar

Ouvia dele contar
épicas aventuras
por entre sóis de escarlate
com peixes
em movimentos suaves
brandas aves marinhas
e níveas fadas de encantar

E o mar abriu-se afável
sob meu desejo pueril

Um dia parti

Em seu regaço naveguei
e faminto
sorvi enfeitiçado
o salso acre
do seu paladar

e nele me perdi.

L. Araújo, in "Maresias".


Tuesday, January 04, 2005

AI HORAS QUE VI PASSAR . . .

Ai horas que vi passar
curtas ladinas
distantes enervantes

Ai horas que vi passar
ocas vazias
sonolentas pestilentas

Ai horas que vi passar
ágeis fáceis
objectivas comprometidas

Ai horas que vi passar
tristes medíocres
fúteis inúteis

Ai horas que vi passar
perdudas sanhudas
... e a vida a abalar!


L. Araújo, in "Princípio ... e ... Fim!"






DEIXEM CANTAR . . .

Deixem cantar as aves matinais
e as canções alegres da natureza
purificarão da humanidade
o pesado ouvido

Deixem espalhar o cheiro das plantas
e o odor colorido dos jardins
perfumará da vida
o difícil olfacto

Deixem falar as crianças-crianças
e as palavras concretas da vida
calarão do homem
o amargo gosto

Deixem abrir as entradas da alma
e a luz cristalina da verdade
extinguirá da ilusão
a turva vista

Deixem abafar a invalidez humana
e a força triunfante do amor
construirá um homem novo
Homem (apenas).


L. Araújo, in "Princípio ... e ... Fim!"