Monday, August 22, 2005

FOGO

Sorrateiro
o usurpador
irrompeu
voraz e matreiro
calcinando
a nossa existência
indefesa
ante a sua doida
passagem assassina.

L. Araújo, in "Circunstâncias".

Sunday, August 14, 2005

PAJARITO

Canta canta
pajarito canta
ya el dia
se alevanta

Canta canta
pajarito canta
que de te oir
el pueblo se encanta

L. Araújo, in: "Circunstâncias"

Thursday, August 04, 2005

OS MIÚDOS DA MINHA CIDADE

Os miúdos da minha cidade
traquinas e irreverentes
estendem a mão suplicante
“—Uma moeda p`a pão…”
segurando a caixa de cartão
“—Não roubo! Peço!”

Os miúdos da minha cidade
as esplanadas da avenida
serpenteiam em bandos
“—One dollar, please, madame…”
sorvendo tragos amargos
“É doce, Carla! --Dá-me…”

Os miúdos da minha cidade
no cimento quente do cais
jogam ilusões nas moedas
“—Casa! --Coroa! --Vira!”
sonhando riqueza fácil
“—Paga mais vinte! --Pira-te!”

Os miúdos da minha cidade
catraios ágeis ladinos
mergulham no mar esperanças
“—Sor, uma moeda p`a gente…”
buscando o desejado presente
“—Achei, João, 50 patacas!”

Os miúdos da minha cidade
oito dez doze anos elas e eles
cursam da vida a dura escola
“—P`a comer! Uma esmola…”
saboreando o amargo suor salgado
tingido de sangue e pó mesclado

Os miúdos da minha cidade
à margem da sociedade
estendem a mão suplicante
“—Uma moeda, sor! --One dollar!”
recolhendo no íntimo infantil
o desprezo lançado do olhar

Os miúdos da minha cidade
por becos e travessas escuras
ganham o direito à vida
escapulindo à pública ordem.
Os miúdos da minha cidade
são aquilo que são: “—Miúdos !”

L. Araújo, in: "Princípio...e...Fim!"