Thursday, April 28, 2005

ESPEREI POR TI

Esperei por ti
e não vieste
ao findar o dia húmido
de pensamentos cristalinos
reflectindo ideias evasivas
na superfície gasta
da calçada da rua

Assim como assim
do fundo do meu ser
um arrepio agudo
brotou lancinante
destruindo
a esperança alada
sonho camuflado
sob a capa do destino.

L. Araújo; in "Princípio... e... Fim!"

Monday, April 25, 2005

ERA PRIMAVERA E ACORDASTE ... LIBERDADE

Era Primavera e acordaste
fulminada pelo grito agudo
de liberdade
saído da boca de uma criança
cortando o silêncio
Era Primavera e sorriste
impregnada pelo odor angélico
de um cravo encarnado
florescendo do cano de uma espingarda
Era Primavera e chegaste
embevecida pela chama calorosa
da esperança inolvidável
entre cânticos de glória
e gestos de amizade
Era Primavera e sofreste
perturbada pela ânsia hipócrita
de um sonho interrompido
em consciência senil
Era Primavera e renasceste
a vinte e cinco
de um qualquer mês
disputado a cada instante
pela vontade indomável
de te possuir
Era Primavera e quiseste
puerir e airosa
gravar ad eternum
no coração de um povo
teu nome
LIBERDADE.

L. Araújo; in "Princípio ... e ... Fim!"

Sunday, April 24, 2005

ACORDA NAÇÃO MORIBUNDA

Acorda
nação moribunda
de cadavéricas faces
proscrita
no húmus pestilento
rastejando
perdida
em quezílias de cordel

Levanta-te
egrégia gente
da bruma do tempo
prisioneira
e embrenha-te
no calor humano
de quatro décadas amordaçado

Liberta-te
país de morais vitórias
das amarras ferruginosas
do passado
e salta e canta
e clama
a tua força o teu querer
e no Olímpo vinga
o desprezo orgulhoso
dos deuses de barro
nas dunas à beira Tejo
esculpido

Grita
povo luso
herói de seculares glórias
e ergue
ao mundo incrédulo
a taça cintilinte
da democracia conquistada
em aurora primaveril
de um vinte e cinco de Abril

E já do cano da espingarda brota
pelo sorriso inocente da crinça semeado
e fulgurante
reluz o cravo vermelho da esperança
para sempre
LIBERDADE.

L. Araújo; in "Princípio...e...Fim!"

Tuesday, April 19, 2005

HOJE MAGOARAM O MEU AMOR ...

Hoje magoaram o meu amor
e o meu amor entristeceu-se
Na face rolam cristais
turvos de sangue e dor
Há dor que um beijo não cala
nem uma rosa perfuma
Há dor que só o tempo suaviza
no quebrar contínuo da vida.

Hoje magoaram o meu amor
e a dor agravante virou ferida
O meu amor martirizado sofreu
e a sua alma emudeceu
Há dor que as lágrimas não aliviam
nem as palavras confortam
Há dor que só o amor
faz palpitar o coração
e o coração ainda sofre de amor.

L. Araújo, in "Princípio ... e... Fim!"

Wednesday, April 06, 2005

O POETA NÃO MORREU!

O poeta não morreu!
O poeta escondeu-se
no silêncio da palavra
no oculto da imagem
na essência do ser.

O poeta não morreu!
O poeta vive
no som da palavra
prenhe de emoções
pintada na tela pura
do livro.

O poeta não morreu!
O poeta vive
na nudez da palavra
no grito do pensamento
no magma do espírito.

O poeta não morreu!
O poeta suplantou-se
e transcendente
voou para a glória do Olimpo
lugar cativo dos poetas.


Para o José António Gonçalves, com a amizade de sempre.
Até à próxima!

Friday, April 01, 2005

CRUZEIRO "TESOUROS DA HISTÓRIA" (8-Fim)

Entrámos no derradeiro dia de navegação, rumando para norte, ao longo da costa italiana. Entretidos e comprometidos com as actividades lúdicas, os espectáculos e o contacto com gentes de diversas paragens, chegara a hora de arrumar as malas e prepararmo-nos para o desembarque, na bela cidade de Savona, doze dias após a partida, naquilo que constituiu um verdadeiro curso de formação acelerada em língua, cultura e civilização mediterrânea.
E foi lembrando o filósofo grego na sua douta sabedoria que murmurámos para connosco: “Não viajo; Evoluo”.