FOI CARNAVAL... NINGUÉM LEVA A MAL!
O que é o CARNAVAL?
O Entrudo espevitado pela folia ?
O folclore brilhante das plumas coloridas
esvoaçando desejos recalcados?
O estrondoso eco "taco-punta,taco-punta,taco-punta" do calçado saltitante na calçada vazia de conteúdo?
O brilhantismo efervescente da mulata,
dançarina gostosa,
gingando as carnudas colunas de Hércules
em desmesurada competição
ao ritmo desvairado do samba
das favelas dos Brasis?
O muleque carinhoso,
de ventre dilatado,
artista malabarista da redondinha,
sonhando uma vida melhor,
para além da feijoada aguada?
CARNAVAL! CARNAVAL!
_ Oi, galera,´'tá legal?
_ Tudo joia, mê irmão, né?
E a vida? A NOSSA VIDA?
Não é a NOSSA VIDA um verdadeiro CARNAVAL?
Mal caímos neste mundo e
"_ Zás, catrapumba!"
Somos iniciados num aleivado Carnaval...
... sem referência ao acto da concepção...
De imediato,
embrulham-nos no organdi da maledicência:
_ Olha, que lindo! Sai à mãe!
_ Não, ao pai é que é!
_ É feio como todos os bébés!
_ Macaquinhos há muito mais gostosos!
E seguem-se as histórias infantis:
_ Era uma vez, uma princezinha,
tão bela, tão bela, ...
... etc e tal, blá-blá, blá-blá...
idem, ibidem...
... e viveram felizes para sempre!
GRANDE CARNAVAL!
E vida fora,
os encontros emocionais e profissionais,
a vergonha do piropo brejeiro,
a indecisão do primeiro beijo...
... a paixoneta de estio,
desfeita,
o amor traído,
os vícios interrompidos
e corrompidos
e as verdades descoloridas
e a...
_ Os meus pêsames.
Era muito bom rapaz!
E logo para o lado:
_ Grandíssimo cabrão!
enquanto, carpindo inóspitas lágrimas de crocodilho,
aconchega solene a coroa de crisântemos
depositada na campa semi-cerrada
ostentando o cartão pessoal
colado nos dourados da astúcia:
_ Receba os nossos sinceros sentimentos pela perda do seu ente querido!
cochichando:
_ De grande puta se abastece, hoje, o Mafarrico!
CARNAVAL! CARNAVAL! CARNAVAL!
E a mentira política,
económica,
histórica
e sócio-cultural
em ebulição.
E a vida em carnavalesco cortejo,
desfilando presunçosa,
no dançódromo,
virado sambódramo,
de sonhos,
quimeras
e
devaneios...
E... que é então o CARNAVAL?
Se a vida não é um verdadeiro Carnaval,
que ninguém me leve a mal...
...ainda é tempo de Carnaval.
E antes que o Carnaval se despeça,
despeço-me eu com o "capelino rosso"
digno de qualquer ayatola,
de civilização oriental...
... e que mais?
Se acaso não gostaram,
não levem a mal.
VIVA O CARNAVAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
L. Araújo, in Circunstâncias.